domingo, 27 de julho de 2014

Atos proféticos e transferência de unção

Já se passou algum tempo, e o assunto já gerou muita polêmica nas redes sociais, mas na época em que circulou o vídeo de transferência de unção profética entre gerações com a Ana Paula Valadão, e a infeliz tentativa de defesa do pastor Lucinho sobre o ocorrido, escrevi os comentários abaixo em uma conversa sobre profecia e transferência de unção no contexto da igreja do Novo Testamento, e achei que valia postar por aqui.

"Primeiramente, precisamos entender que nem tudo o que está na Bíblia Hebraica se aplica à igreja neo-testamentária. Não podemos destacar o texto do seu contexto textual, histórico, cultural e em qual aliança entre Deus e o homem foi feita.

Apenas para ilustrar, comumente vemos em igrejas o pessoal lendo Salmo 122:1 se referindo ao templo de local de culto onde estão reunidos como a casa de Deus, o que é algo completamente estranho (pra não dizer herege) à doutrina do novo testamento, onde somos oikos pneumati (I Pe 2:5), ou seja nós somos as pedras que compõe a casa construída por meio do espírito (dativo instrumental de pneuma) chamada igreja.

Quando falamos em unção no Novo Testamento, há somente um ungido; Jesus Cristo. Ele é o protagonista de todo movimento espiritual, todo avivamento e toda capacitação dada à igreja, por meio do Espírito, para a capacitação dos santos para edificar e construir essa casa espiritual chamada igreja. É o Espírito Santo quem capacita, que "unge", e essa capacitação, dentro do contexto neo-testamentário, jamais poderá ser "transferida" por ação humana.

(...)

Vamos lá... profecia!

 De novo, precisamos entender a diferença de conceito entre velho e novo testamento. No velho testamento, profecia era um chamado, onde o profeta era separado para anunciar a "palavra" de Deus ao seu povo.

No novo testamento, a própria Palavra de Deus, o Verbo, o Logos, encarnou. Não se faz mais necessário que ninguém mais intermedie a palavra de Deus ao homem, ela já foi plenamente revelada em Cristo Jesus.
"A Lei e os Profetas profetizaram até João. Desse tempo em diante estão sendo pregadas as boas novas do Reino de Deus, e todos tentam forçar sua entrada nele." Lucas 16:16
Após a plena revelação da palavra de Deus em Cristo, e consumação da obra redentora da cruz, diferente de qualquer pessoa, profeta ou ungido no velho testamento, passamos ter o Espírito Santo habitando em nós, o próprio Senhor da igreja habita em nós, e nos capacita para realizar toda boa obra e edificar sua igreja. Profecia no NT passa a ser um dom, e não um chamado, e como todo dom, tem o contexto de edificar sua igreja a fim de capacitá-la para pregar as Boas Novas.
"Mas quem profetiza o faz para a edificação, encorajamento e consolação dos homens." 1 Coríntios 14:3
Podemos dizer que o profeta no NT não é aquele que faz uma revelação de uma palavra nova, mas o que, movido pelo Espírito Santo, usa da palavra revelada, ou seja, as escrituras sagradas, para edificar, consolar e encorajar a igreja.

Não vejo as 7 voltas em torno de Jericó como um ato profético, mas mesmo que seja, achar que isso se aplica a nós, como igreja, e que temos que marchar em volta de algo como um ato profético que aquela barreira cairá, ou qualquer "extravagancia" semelhante, é não entender o sentido de profecia do NT..... diria que pode ser até pior, é não entender a autoridade da bíblia como a única e completa revelação de Deus.

E esse é que acaba sendo o erro de muitos desses movimentos. Não basta saber o que Deus fez na história, não basta saber que a plena revelação da Verdade foi dada em Cristo Jesus, não basta saber que a bíblia já contempla toda a revelação de Deus à sua igreja, precisamos da revelação bíblica e mais alguma coisa, precisamos da bíblia e mais um mover novo, "extravagante"....

No fundo, no fundo, é uma visão do pós-modernismo dentro da igreja. O modernismo rejeitou toda a tradição, toda a história, e em termos teológicos, toda a revelação bíblica de quem o homem é em relação a ele mesmo e a Deus para reconstruir sua visão de mundo à partir da razão. "Penso, logo existo". Quando a racionalidade falhou, no pós-modernimos passamos a tentar identificar nossa identidade através da sensação, "Sinto, logo existo", e seguindo a evolução, na sociedade atual, já que não conseguimos encontrar nossa identidade em nós mesmos, delegamos aos outros, portanto "Sou percebido, logo existo" (o que é a base de toda a nossa sociedade de hiper consumo). No fundo, como somos educados a pensar de forma "moderna" pela sociedade, e não fomos educados a pensar de forma "cristã" dentro da igreja, rejeitamos uma construção da Verdade que não venha de nós mesmos, e tentamos reconstruí-la através de nossas experiências. Por isso precisamos de novos moveres, de ações proféticas, cair no poder ou ter manifestações extravagantes. Se não sentimos, se não caímos no poder no fim do culto, então não foi verdadeiro, não foi poderoso, não foi ungido!

Agora, o que é o modernismo e o pós-modernismo, se não uma heresia do cristianismo?!

Bom, pra fechar, só quero deixar claro que essa é a minha visão e entendimento que tenho sobre o assunto hoje. Não é minha intenção ofender ninguém."

Balada Gospel

Em uma conversa do facebook sobre a nova moda de balada gospel, escrevi o texto abaixo comentando sobre o assunto e achei que valia à pena postar aqui.

"Por certo aspecto, a questão tem uma certa semelhança com o que foi a proibição do cinema no passado. O cinema era mal visto por ser um lugar de "pegação" assim como a balada é hoje, e para a mentalidade "cristã" tradicional da época, era inconcebível que um cristão frequentasse um lugar desse como um meio de entretenimento, assim como muita gente olha "torto" para as baladas hoje.
Não creio que a fazer algo por entretenimento seja mal por si só. A posição ascetista de que tudo que é carnal, como o prazer e o entretenimento é puramente mal, pode ter aparência de sabedoria, mas ignora parte da palavra de Deus.

No plano original de Deus, ele criou o paraíso na terra, real, físico, e é muito relevante que em apocalipse (Ap. 21:2), a nova Jerusalém desce do céu... não quero discutir escatologia aqui, mas é relevante enxergar que de algum modo Deus quer fazer o Seu reino presente nessa Terra, humana e carnal. O ponto é não se relacionar com o prazer e o entretenimento como fonte e fim, mas entender que eles devem apontar para a fonte dessa alegria. Isso pode parecer apenas definições teóricas, mas muda radicalmente o modo como você se relaciona com as coisas, e acho que aqui que começa a pegar nas baladas gospel..... talvez a grande maioria nem saiba que está presa na "Matrix", quanto mais liberta dela...

O ponto é que nossa cultura atual está presa dentro de uma visão hedonista alto destrutiva. Uma citação que gosto bastante de Pascal em "Diversão e Tédio" diz:
"A única coisa que nos consola de nossas misérias é a diversão. No entanto é a maior de nossas misérias. Porque é ela que nos impede principalmente de pensar em nós e que nos põe a perder insensivelmente. Sem ela ficaríamos entediados, e esse tédio nos levaria a buscar um meio mais sólido de sair dele, mas a diversão nos entretém e nos faz chegar insensivelmente à morte."
A crise de identidade, liberdade e verdade que vivemos hoje é tão grande, e tão enraizada na nossa cultura, que o entretenimento é parte central como válvula de escape. Estamos o tempo todo buscando padrões irreais de vida, status, beleza, liberdade, autonomia financeira, sucesso na carreira profissional, bens caríssimos que definem no caráter, e como obviamente não conseguimos atingir esses padrões irreais que a mídia impõe, partimos para os meios de fuga para esquecermos nossas misérias: a sociedade de híper-consumo, a busca de realização nas sensações, as culturas das drogas, dos vícios, do sexo compulsivo, e da cultura de baladas.

Quando aceitamos a Cristo, deveríamos acordar e sair dessa Matrix, porque o que nos define não são mais esse padrões irreais que aprisionam nossa sociedade, mas o que Deus fez na cruz por mim, e o que eu me tornei por meio de sei sacrifício. Não preciso mais de saltos para fugir da minha falta de identidade em não conseguir atingir os padrões impostos, porque o padrão de Deus foi atingido por Cristo na cruz do Calvário, e eu encontro a minha identidade olhando para Cristo (o final do livro inveja fala sobre isso, pra quem já leu).

Voltando para o ponto da balada, se alguém consciente de tudo isso, que não tem a necessidade de fugir de si mesmo para um momento de felicidade, que não se relaciona com a balado como um salto para o esquecimento de suas misérias, quiser ir para uma balada (ou um cinema, um teatro, uma apresentação musical, ou qualquer meio de entretenimento), para desfrutar de um momento com os amigos; ok, não acho que é um problema. Mas para alguém que está preso nessa cultura, e que nem sabe que está preso, criar apenas um meio de salto (por mais que seja "melhor" que uma balada do mundo, sem bebidas ou pegação), não trata o problema, não liberta a pessoa de si mesmo, e talvez pior, se ficar apenas nisso, pode estar enganando as pessoas fazendo-as acreditar que encontraram a liberdade, estando ainda presas (isso sem falar em outros pontos questionáveis, como o mercado por traz e o lucro disso... para onde vai?).

Mas isso que estou falando não acontece só nas baladas gospel..... está nos shows, nas igrejas, nos eventos, no cultos de adoração... temos nos relacionado com o sagrado como um salto de esquecimento de nossa realidade, ao invés de enxergar que todos os pontos de nossa vida são sagrados.

Se tem uma solução para isso? Não sei... ainda não encontrei uma solução nem pra minha própria vida... ainda sou tão inseguro de mim mesmo e tão fraco quanto o que está na cultura do salto.... e muito, muito menos feliz que eles, com certeza....

Se tornar um pequeno Cristo, um cristão, é resultado da peregrinação de uma vida... espero que no final dessa caminhada esse relacionamento com o Eterno tenha me tornado a sua imagem e semelhança."

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Marinho Oliveira

Hoje faleceu um músico e amigo querido, a quem admirava muito: Marinho Oliveira, e gostaria de registrar aqui a minha singela homenagem.

Em nossa existência finita, nos deparamos com a inevitável dor da morte; com o fim abrupto dos sonhos não realizados, das conversas não faladas, das músicas não compostas e dos momentos que não mais serão vividos. 

Mas fica para trás a memória de quem nós fomos, as vidas das pessoas que tocamos e influenciamos, e o que realizamos. Nossa vida se vai, mas a nossa memória materializada nas vidas das outras pessoas e na obra que produzimos é eterna.

O médico grego Hipócrates sabiamente disse: "Breve é a vida, Longa é a arte".

O marinho deixou um legado de diversas pessoas a quem ele influenciou (inclusive a minha), além de um belo legado musical. Que sua história e sua memória continue viva através de nossas lembranças, e através de sua obra.


"Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios."
Salmos 90:12


Duas de suas músicas:

Paz em Cristo - Prelúdio I




Vazo de Benção




Descanse em paz, Marinho!