terça-feira, 24 de julho de 2012

Kevin DeYoung - Dez Princípios Para a Música na Igreja

Retirado de blog Cante as Escrituras.

Quando se trata dos cânticos de Domingo, as igrejas têm mais opções do que jamais tiveram. Do hinário, passando pela Hillsong, até as composições locais, pastores e líderes de louvor têm milhares de músicas para escolher. Um bom problema para se ter.
Mas ainda é um problema. Nenhum líder de música pode evitar. Nenhuma igreja pode cantar todos os ótimos hinos e todas as mais novas e melhores canções das rádios. Nenhum músico consegue ser excelente em todos os estilos musicais que existem. Nenhum líder pode agradar todas as pessoas o tempo todo.
A proliferação de opções com freqüência leva a um conflito. Devemos cantar hinos (Wesley, Watts or Fanny Crosby?) ou contemporâneos (música popular dos anos 70, música evangelical contemporânea ou punk rock?). Nossa música deve ter um pouco do ritmo latino ouç do sentimento Afro americano? Devemos usar cânticos, música de coral, salmos, jazz, country ou bluegrass?
Há outras questões também. Que tipo de instrumentos devemos usar? Quanto do contexto cultural deve ser levado em conta? Há apenas um tipo certo de música para cantar? Se não, há maneiras erradas?
Eu não posso responder todas essas perguntas. Mas há alguns princípios gerais que podemos usar para tomar decisões sábias sobre a música de nossa igreja. Deixe-me sugerir alguns princípios para a música congregacional.
Há coisas mais importantes que o tipo de música que cantamos. A música não deve ser a cola que nos mantém unidos – a cruz, a glória de Jesus Cristo, a majestade de Deus e o amor é que devem ser. Mas mesmo igrejas centradas no evangelho têm discordâncias sobre música. Então o amor é indispensável quando cantamos e quando tentamos discernir o que é melhor cantar.
João Calvino:
Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias não quis ele prescrever minuciosamente o que devamos seguir (porque isto previne depender da condição dos tempos, nem julgaria convir a todos os séculos uma forma única), impõe-se aqui acolher as regras gerais que deu de modo que, em conformidade com essas regras, sejam aferidas todas as coisas que, para a ordem e o decoro, a necessidade da Igreja muito requer que sejam preceituadas. Enfim, porque Deus nada ensinou expresso nesta área, porquanto essas coisas não são necessárias à salvação e devem acomodar-se variadamente para a edificação da Igreja, segundo os costumes de cada povo e do tempo, convirá, conforme o proveito da Igreja o requerer, tanto mudar e revogar ordenanças comuns, quanto instituir novas. De fato reconheço que se deve recorrer à inovação não inconsiderada, nem seguidamente, nem por causas triviais. O que, porém, prejudica ou edifica, melhor o julgará a caridade, a qual se permitirmos seja a moderatriz, tudo estará a salvo. (Inst. 4.10.30)
Antes de sermos rápidos em julgar as músicas ruins de que outros Cristãos gostam, lembremos do relato de C.S. Lewis. Preste atenção em um dos mais famosos convertidos aos Cristianismo do século falando sobre sua primeira impressão da música da igreja:
Não gostei muito dos hinos deles, que considerei poema de quinta categoria em música de sexta. Mas com o tempo, vi seu grande mérito. Eu fui confrontado com pessoas de visões e educações diferentes, e gradualmente meu conceito começou a se desfazer. Eu percebi que os hinos (que eram apenas música de sexta categoria) estavam, no entanto, sendo cantados com devoção e benevolência por um santo idoso calçado em botas simples no banco oposto, então você compreende que não é digno de limpar essas botas. Isso faz você se libertar dessa presunção. (God in Dock, 62)
Imagino que o Apóstolo Paulo, se estivesse escrevendo à igreja de hoje, talvez tivesse algo a dizer sobre o estilo de louvor. “Se eu cantar no estilo musical mais da moda, mas não tiver amor, estarei apenas tocando bateria e dedilhando uma guitarra. Se eu tiver o dom de interpretar música e apreciar os mais ricos hinos, mas não tiver amor, nada serei. Se eu tenho perspicácia para excelente música e poesia fina, mas não tiver amor, de nada tenho proveito”. O primeiro princípio para cantar como uma congregação e escolher músicas para a congregação é o amor.
Deus é o único que devemos querer impressionar, o único a quem mais devemos querer honrar. Nosso primeiro objetivo não deve ser conquistar a cultura ou apelar para o não regenerado. Adoração é para o Único Digno.
Seguir rigorosamente essa prioridade é o objetivo da edificação. As músicas cantadas no domingo de manhã devem ser benéfica ao povo de Deus. Essa é uma aplicação fiel das preocupações de Paulo em 1 Coríntios 14. Também faz parte ensinar e admoestar uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais (Col. 3:16). Nunca devemos colocar a música apenas como uma divertida introdução ao sermão. Antes de aplicar música secular como música de fundo no prelúdio, reflita se uma canção vagamente espiritual do U2 realmente edificará o corpo de Cristo.
Cânticos congregacionais fazem parte do ensino ministerial da igreja. Músicos e pastores de igreja devem perguntar a si mesmos: se nosso povo aprendeu teologia por meio de nossas músicas, o que vão saber daqui a 20 anos sobre Deus, a cruz, a ressurreição, os obras de Cristo, o Espírito Santo, a Trindade, criação, justificação, eleição, regeneração, a igreja, os sacramentos e todas as outras doutrinas fundamentais da fé?
É uma ordem? Uma ordem que não cumprimos ainda? Há ainda novas músicas a serem cantadas a Deus. E se a Igreja tivesse parado de cantar cânticos novos no século XV? Não teríamos “Castelo Forte”. E se os cristãos tivessem parado no século XVI? Sem Charles Wesley. Nem Isaac Watts. E se a Igreja tivesse parado uma geração atrás? Ninguém cantaria “In Christ Alone” no domingo. Uma pena.
A metáfora é proposital. Devemos nadar no grande oceano da música de igreja, um oceano que está continuamente recebendo novos fluxos. Eu não estou defendendo uma porcentagem definida de velho Vs. novo – toda igreja parecerá um pouco diferente, mas sugiro que devemos entender a nós mesmo como parte desse oceano profundo da música cristã.
Para mim, é chocante que uma igreja conscientemente (ou inconscientemente, se for o caso) fuja completamente do oceano dos hinos históricos e entre em na piscina rasa de música exclusivamente contemporânea. Não estou dizendo que músicas mais novas são inferiores às mais velhas (veja o ponto anterior). O que estou dizendo é que é uma expressão de extrema arrogância e insensatez pensar que não temos nada a ganhar das velhas canções e nada a perder quando desprezamos músicas cristãs que foram cantadas por milhares de anos.
Pense que no que você ganha com um hinário (seja um hinário de fato ou o conteúdo do hinário na projeção):
Uma ligação com a história. Nosso povo, sem mencionar o mundo, precisa saber que o Cristianismo não é uma invenção inédita. Cantamos juntos com dois milênios de crentes.
Diversidade. Garanto que aquelas igrejas que cantam hinos estão sendo expostas a uma variedade mais vasta de músicas cristãs que aquelas que são exclusivamente contemporâneas. O hinário tem 20 séculos de estilos: cânticos, canções populares e étnicas, cantigas, salmos, baladas galesas, melodias britânicas, hinos alemães, música gospel (negra ou branca) e dúzias de outros estilos musicais.
Excelência. Sim, há alguns verdadeiras sucatas na maioria dos hinários. Mas no geral, as músicas ruins foram descartadas. Se estamos ainda cantando uma música 500 anos depois, ela provavelmente tem uma letra forte, boa poesia e uma tonalidade cantável
Todos os conselhos de Deus. Hinos dão a você um amplo leque de temas e categorias bíblicas. A música contemporânea está melhorando esse quesito, mas o hinário é ainda o melhor lugar para encontrar uma música de adoração e exaltação a Cristo ou uma canção de iluminação ou uma lamentação ou um hino de comunhão. Parabéns a Keith e Kristyn Getty e Sovereign Grace por tentar preencher esse tipo de lacuna.
Não estou convencido pelos argumentos em favor da salmodia exclusiva. Mas em 95% das igrejas o problema não é que estamos mantendo distância dos bons “não-Salmos”. É estranho, embora nos seja ordenado que cantemos os Salmos e embora salmos tenham sido o centro dos cânticos nas Igrejas durante séculos, ainda ignoramos um trecho imenso no meio de nossas Bíblias (emprestando uma frase de Terry Johnson). Em uma observação mais alegre, fico feliz por estarmos começando a ver alguns músicos contemporâneos voltando atenção aos salmos.
Não estou, nem de perto, sugerindo elitismo. Uma melodia tem de ser relativamente simples para que centenas ou milhares de pessoas cantem ao mesmo tempo. Mas podemos ainda persistir em não nos distrairmos pela falta de excelência (para usar a frase de John Piper). Queremos que a cruz seja a pedra de tropeço, não nossa musicalidade pobre ou o Power Point cheio de erros.
Enquanto acredito que uma grande variedade de estilos pode ser usada na adoração, não sou um relativista musical. Algumas músicas são melhores que outras. Alguns estilos funcionam melhor que outros. E quando se trata de letra, evitamos deslizes óbvios como usar tu e você na mesma música ou acumular clichês banais. Ouvi uma canção no rádio há algumas semanas cujo refrão tinha algo sobre uma rosa perfumada no início da primavera e uma águia voando alto a estender suas asas. Se sua igreja canta isso no domingo, ame seu líder de louvor do mesmo jeito. Mas se você é o líder de louvor escolhendo essa música, tente algo com um pouco mais de arte, algo que não soe como vindo de uma página aleatória do seu calendário inspirativo de bolso.
Algumas músicas são simplesmente profundas e algumas são profundamente simples, mas há uma forma de fazer ambos bem. Com tantas músicas a escolher, não há razão para as igrejas não fazerem um esforço para cantar músicas com algum senso de poesia e integridade musical. O refrão de Aleluia é repetitivo, mas é musicalmente interessante. A maioria das canções, refrões e versos não são suficientes para serem repetidos por tanto tempo.
Todos são responsáveis por cantar. A jovem com suas mãos erguidas e o idoso cantando o baixo. O que as pessoas querem ver na sua adoração é aquilo que você quer dizer. E não importa quão relaxada ou reverente sua adoração é, se ninguém está cantando, é ruim.
É cantável? Preste atenção na extensão (muito alta ou muito baixa) e esteja ciente da síncope e das irregularidades na métrica e no ritmo. Certifique-se que a melodia é intuitiva, principalmente se você não tem a partitura para olhar ou se as pessoas não sabem lê-la. Quando seu violão dedilha entre sol, dó e ré, há muitas notas a serem escolhidas nesses tons.
O instrumental está ajudando ou inibindo a congregação de cantar? Isso significa checar o volume. A música está muito suave para sustentar as vozes? Está tão alto que as abafa? Um erro das equipes de música é pensar que todos os instrumentos devem ser usados em todas as músicas. Algumas músicas devem ter um instrumental completo, mas só porque você tem bateria, piano, guitarra, baixo, lira, cítara, flauta, chocalho, banjo, violoncelo e atabaque, não quer dizer que você tem que usar todos eles o tempo todo.
É uma canção familiar? As pessoas têm dificuldade com uma música nova toda semana, quanto mais duas ou três. Mantenha seu som e suas canções básicas e parta daí. De vez em quando, você pode ter que admitir “Essa é uma ótima música, mas não acho que podemos tocá-la bem”.
Toda igreja terá um núcleo musical. Você não deve reinventá-lo toda semana. Mas você também não deve ser escravo disso. Precisamos ser forçados de vez em quando, não apenas com uma música nova, mas com um novo tipo de música – algo da igreja afro-americana ou algo da África ou América Latina. É bom ser lembrado que pertencemos a uma igreja antiga e global.
A música deve sustentar o tema da canção. Letras diferentes têm climas diferentes. A letra de “Castelo Forte” não funcionariam bem na melodia de “Children of the Heavenly Father”. A alegre canção “Do Lord” não consegue capturar o sentimento das palavras finais do ladrão à beira da morte. Por outro lado, é difícil não amar a música de Keith e Kristyn Getty “See What a Morning”, em que a música triunfante e de celebração combina perfeitamente com a letra sobre a ressurreição.
O estilo musical não é neutro, mas é flexível. A música transmite algo. Algumas melodias são doces demais ou demasiado estridentes ou muito românticas. Sempre achei que “Este é meu respirar” soava sensual demais. E também não estou muito certo sobre o que essa música quer dizer. Mas estilos não são categorias rígidas. Não há uma linha definida entre contemporâneo e tradicional, clássico e popular ou alta e baixa culturas. Não temos que fazer regras absolutas sobre estilo musical, mas precisamos ser inteligentes.
Deixe-me dar uma palavra sobre órgãos. Nenhuma igreja deve lutar por eles até a morte. Mas se a sua igreja já tem um órgão, meu conselho é que continue usando. Órgãos eram originalmente associados ao paganismo. Então não há nada inerentemente espiritual nele. Quando foram introduzidos na igreja, os cristãos sabiam tanto sobre órgãos quanto os adolescente de hoje sabem. Eles foram introduzidos na adoração por causa da capacidade desse instrumento. Como Harold Best argumenta no seu fantástico livro Unceasing Worship (Louvor incessante), não há no Ocidente instrumento mais adequado para sustentar o canto congregacional (p.73). O órgão preenche os vazios, proporciona um som grave e encoraja a igreja a cantar mais alto e mais livre. Se você não tem um órgão, pode ser caro adquirir um. Não vamos estabelecer uma regra. Mas se o órgão é uma opção pra você, não a descarte.
Devemos começar perguntando sobre todas as nossas músicas: isso é verdadeiro? Não apenas verdadeiro, mas em conformidade com o texto bíblico. Por exemplo, eu gosto da música “Consuming Fire” do Third Day, mas a letra, embora verdadeira, faz mal uso do texto bíblico. De acordo com a música, Deus é o fogo que consume porque ele entra e derrete os nossos frios corações de pedra. Isso é verdade, mas o texto de Hebreus é sobre Deus, nosso juiz.
Semelhantemente, nossas músicas devem ser explicitamente verdadeiras. Isso é, não devemos ter que forçar uma interpretação para a letra ficar ok. Não queremos cantar músicas que nos levem a pensar “o que isso quer dizer exatamente?”
Por outro lado, não seja muito duro com canções do tipo “eu”. Cerca de 100 dos 150 salmos têm a palavra “eu”. “Eu” não é o problema. O problema é com as músicas que são coloquiais demais ou usam o “eu” impensadamente (“eu só quero te louvar” – bem, então louve), ou nunca passam de como estou me sentindo em relação a Deus para quem Deus é e o que Ele fez para que eu me sinta desta forma.
Em todas as nossas músicas queremos ensinar as pessoas sobre Deus. Se não estamos aprendendo boa teologia e verdade bíblica com nossas músicas, então não temos cuidado com nossas músicas ou não ligamos muito para as verdades bíblicas, ou ambos.
Fonte: iPródigo

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Bob Kauflin - Falar ou Não Falar? Eis a Questão

Retirado de blog Cante as Escrituras

Nos meus primeiros anos liderando o louvor e adoração no culto, eu pensei que tinha que compartilhar um mini-ensino ou uma oração sincera entre cada canção. Não tenho certeza porque eu pensei isso. Mas quando o meu pastor, finalmente, chamou minha atenção é que eu percebi o quanto era chato.
Muitos líderes de louvor com quem converso passam por lutas tentando saber quando e o que dizer durante a ministração no período de louvor.
Aqui estão quatro pensamentos que me ajudaram ao longo dos anos:
1. Conheça o seu objetivo.
Adorando a Deus com música significa mais do que ter uma experiência musical. Podemos fazer isso em um concerto ou com o nosso iPod. Mas o objetivo de um líder de adoração é ampliar a grandeza de Deus nos corações, mentes e vontades. A pessoa e a obra expiatória de Jesus Cristo deve tornar-se maior em nossos olhos e mais relevantes para nossas vidas.
Isso significa que eu devo fazer o que puder para garantir que as pessoas estão cantando com suas mentes, bem como seus espíritos (1 Coríntios. 14:15). Eu quero ajudá-los a se envolver com as verdades que estão cantando. Isso leva às palavras. Palavras faladas.
Após a primeira ou a segunda canção, eu vou levar cerca de 1-2 minutos para biblicamente, pessoalmente, e claramente ajudar as pessoas a compreender porque estamos prestes a cantar a canção seguinte. Eu vou puxar, geralmente a partir de um certo número de fontes possíveis: um ponto da mensagem da semana passada, o foco de uma série de ensino que estamos atualmente em uma nova canção… introduzir as razões para cantar louvores a Deus, ou mesmo um evento de interesse mundial (a tragédia no Haiti, por exemplo). Meu objetivo é conectar um aspecto do que Deus fez por nós em Cristo, com que as pessoas estão vivendo. E o que eu digo, eu quero ter certeza de que é baseado sobre a verdade imutável da Palavra de Deus, não apenas a minha opinião ou sentimentos.
2. Conheça o seu contexto.
Levando em conta que eu estou ministrando o louvor isso me ajuda a saber o que dizer. Costumo falar mais em um grupo menor, onde eu possa observar as pessoas mais facilmente. Em uma situação onde as pessoas não são muito expressivas, eu vou ter tempo para explicar como nosso corpo pode glorificar a Deus. Se as pessoas estão familiarizadas com as canções e os outros, posso dizer menos.
3. Conheça os seus limites.
Alguns líderes de louvor não se comunicam de forma eficaz. Outros simplesmente não têm o dom. Seja qual for sua situação, não assuma que você é a única pessoa que tem o que falar. Não há mandamento bíblico que diz que a pessoa que lidera o louvor tem que ser aquele que fala entre as músicas. Procurem o conselho de seu pastor em o quanto você deve dizer ou não dizer. Confie em mim. Ele provavelmente está esperando você para pedir conselho.
4. Varie o que você faz.
Por anos, eu trabalhei duro para desenvolver uma “exortação” que eu iria partilhar em algum ponto entre as músicas. Assim como eu pensei que estava ficando bom nisso, meu pastor sugeriu que não fizesse a mesma coisa todos os domingos. Eu não podia depender de minha rotina mais. Eu realmente tive que ouvir a liderança do Espírito.
Seguindo exatamente o mesmo formato todas as semanas, pode levar uma congregação a uma adoração sem vida e estereotipada. Mesmo que chamem de “carismático”, tente ler uma porção das Escrituras, orando como igreja, dando oportunidade para alguém dar um testemunho, ou permitir que alguém fale sobre uma canção.
Um Pensamento Final
Alguns músicos vão servir melhor a Igreja por não dizer nada. Mas não pense que você é um deles. Porque os líderes de adoração amam a glória do Salvador, nós queremos usar o que temos – música e palavras – para comunicar o quão grande Jesus Cristo realmente é.
A minha boca falará o louvor do Senhor, e toda a carne louvará o seu santo nome para sempre e sempre. (Salmos 145:21)

sábado, 21 de julho de 2012

Teoria Musical - Parte 3 - A Partitura


No último post sobre teoria musical, escrevi sobre os conceitos básicos das notas músicais, e vimos todas as notas do sistema ocidental de música. Caso você ainda não tenha lido os posts anteriores, aconselho a você voltar para a parte 1 e ler os textos em sequência. Nesse próximo post, farei uma breve introdução à partitura, e veremos como escrever as notas musicais nela.

A Partitura

A partitura é um sistema de escrita musical completo e universal. Na partitura podemos representar qualquer instrumento, com informações completas sobre a execução da música, como digitação (dedos que devem ser utilizados), efeitos, dinâmica, interpretação etc. Toda a escrita da partitura é feita sobre a pauta, um conjunto de 5 linhas paralelas.

As notas musicais são representadas por pequenos círculos, desenhadas na pauta. A nota pode estar sobre uma linha (sendo cortada ao meio pela linha), ou entre duas linhas. Caso seja necessário, podem ser utilizadas linhas complementares para escrever as notas mais agudas, ou mais graves. Quanto mais para baixo a nota estiver, mas grave será o som, e quanto mais alto, mais agudo.

Na prática

Com a tecnologia de hoje, existem diversos softwares para a escrita e execução de partituras. Os mais famosos e utilizados são o Finale (mais robusto e completo) e o Encore (de utilização mais fácil), ambos pagos. Para o desenvolvimento dos posts, vou utilizar uma ferramenta gratuita chamada Note Flight. A grande vantagem dessa ferramenta é que ela é totalmente web, podendo ser acessada de qualquer computador sem a necessidade de ser instalada. Além disso, as partituras escritas podem ser compartilhadas com os outros usuários, facilitando o acesso e distribuição da mesma entre os demais membros do seu grupo.

Para iniciarmos a compreensão de escrita na partitura, veja a partitura a baixo:



Repare que, como dito anteriormente, as notas (representadas por pequenos círculos), são escritas ou sobre as linhas, ou entre elas. A primeira nota da esquerda, mais grave, está usando uma linha complementar. Por hora, não vamos nos preocupar com os outros elementos da escrita, ou com o porquê da nota ser preta com um bastão.

Na escrita da partitura, a cada "degrau" que subimos, ou descemos, avançamos ou voltamos uma nota natural. Por exemplo, se a primeira nota do "Exemplo 1" fosse uma nota Lá, a segunda seria Si, a terceira Dó, e assim por diante. Se a quarta nota fosse a nota Sol,  a nota anterior (a terceira) seria um Fá e a quinta nota seria um Lá. Desse modo, para saber em quais posições ficam cada nota, basta ter uma nota de referência definida. Essa nota de referência é dada pela "clave".

A clave é o primeiro desenho da partitura (à esquerda), e ela determina a "nota de referência", à partir da qual sabemos quais são todas as outras notas. A clave do Exemplo 1 é uma Clave de Sol, ou seja, ela determina que no ponto em que ela começa a ser desenhada (quarta linha de cima para baixo), é a nota Sol. À partir dessa referência, podemos descobrir que a primeira nota do exemplo 1 é um Dó, e avança por todas as notas naturais até repetir a nota dó uma oitava acima.

Existem mais duas claves: A clave de Fá e a Clave de Dó. A clave de Fá é utilizada para instrumentos graves, como o contra-baixo, e a clave de Dó, mais rara de ser encontrada, serve para instrumentos de altura média, como a viola, e parte da extensão do violoncelo.

No exemplo 2, abaixo, coloquei uma escala passando pelas 3 claves, começando pela nota "Mi" na clave de Fá, e finalizando-a na nota Dó da clave Sol, demonstrando assim a relação entre elas.



Conforme vimos no último post, existem as notas acidentais. Para representar os acidentes na partitura, utilizamos os desenhos de sustenido (#) ou bemol (b) à esquerda da nota. quando colocamos uma marcação de acidente musical, todas as vezes que a mesma nota repetir no mesmo compasso ela também será alterada  (falarei mais sobre o conceito de tempo e compasso no próximo post). Caso se queira que a nota repetida não seja alterada, precisamos utilizar um sinal de bequadro  ("\natural" indicando que o acidente daquela nota foi cancelado. Veja a utilização dos acidentes musicais e seus cancelamentos no exemplo 3:



Em diversos casos, podemos indicar no começo da partitura que determinadas notas sempre serão alteradas durante a música. Por exemplo. eu posso indicar que toda nota fá de uma música será sustenido. Para fazer essa representação, os acidentes são desenhados logo após a clave, e são chamados de "Armação de Clave". Em termos práticos, a armação determina o tom da música (falarei no futuro). Repare no exemplo 4 que a armação de clave indica que todas as notas Fá e Dó da partitura serão sustenidos. Caso deseje utilizar a nota natural, precisamos utilizar o sinal de bequadro, o que acontece na antepenúltima nota do exemplo.




Resumindo, a partitura é um sistema universal que utiliza um conjunto de 5 linhas chamado pauta. As notas musicais são desenhadas em forma de círculos sobre as linhas da pauta. Para sabermos qual nota está sendo representada na partitura, precisamos de uma nota de referência, que é dada pela clave. Para representar as notas acidentais, utilizamos os desenhos de acidentes (# e b) à esquerda da nota, ou no começo da partitura na armação de clave.

No próximo post falarei sobre o elemento "tempo" da partitura.

Qualquer dúvida, comentário, sugestão ou crítica, fiquem à vontade para postar na sessão de comentários.

no amor do mestre,

Renan Alencar de Carvalho

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Conteúdo Além da Forma - Milagres

Em uma época em que está na moda cantar que o "MEU milagre" vai chegar, e que o relacionamento com Deus é professado como uma criança egoísta que apenas sabe dizer que "Eu Quero", compartilho esse letra do Silvestre Kuhlmann:

"Eu vejo milagres a todo o momento
Se meu coração for grato e atento;
O pão sobre a mesa, um filho que chega,
O sol e a certeza do amor de Deus.
É como se eu fosse, de fato, uma ilha
Debaixo de um céu de graça,
Plantada em mar de milagres.
Eu vejo milagres na minha família,
Na vida e na casa de meus amigos;
No corpo e na alma de meus irmãos
Se meu coração tiver olhos pra ver.
Eu vejo milagres por todo lugar,
Eu vejo milagres ao ir e ao chegar,
Eu vejo milagres da graça de Deus,
Eu vejo milagres em volta dos Seus."

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Conteúdo Além da Forma - Sóbrio Louvor


Sóbrio Louvor (Diego Venâncio)

"Receba Senhor 
um canto de sóbrio louvor 
um canto que é feito novo 
e exulta o teu grande amor 


Nossa emoção 
fruto da noção da sua grandeza 
conclusão da nossa pobreza 
e do imerecido amor 


Te rendemos glória Senhor 
pelo o que fizeste em nosso viver 
te rendemos glória Senhor 
gratos por podermos entender"


Eu Recomendo - Tiago Vianna

Retirei essa crítica do portal da Ultimato.



Para apreciar: “Um minuto de silêncio”





É possível encontrar artistas que se preocupam com estética e mensagem na Igreja evangélica brasileira. Procurei por lançamentos de CDs que chegaram às minhas mãos e elegi “Um minuto de silêncio”, de Tiago Vianna, para analisar a música e seu relacionamento com as letras. Para me ajudar nesta caminhada, convidei o amigo e colega de trabalho Filipe Fontes. Decidimos nos ater apenas a três canções que achamos mais expressivas dentre as onze canções do álbum.
 
“Um minuto de silêncio” possui uma considerável diversidade temática. As letras são, em geral, muito ricas, tanto em termos estéticos quanto em profundidade de conteúdo. Para nós, a poética é o ponto alto deste trabalho.

Faixa 3 - (In) Vento (Letra: Gladir Cabral/ Música: Tiago Vianna)
 
O vento passeia livre pelo mar
E ouço a sua voz, o seu cantar
Mas... de onde vem?
E agora pra onde vai?
É certo, assim é quem nasce outra vez
É vento, soprado pelos lábios seus
 
Pode muito bem chegar
Para, então, partir de novo
Pode se fazer parar
Pode se fazer renovo
Floração do intento
Viração do invento
 
Voar... voar... por mares e por campos abertos
Voltar.. voltar: o longe é perto, sempre
Pousar... pousar na frágil segurança do afeto
E ver o sol... nascer de novo no amanhecer
 
O jogo de palavras do título possibilita dupla interpretação. Se “in” for encarado como a preposição inglesa [em, no], somos remetidos ao “vento” como condutor. Se for visto como formador da palavra “invento”, somos remetidos à novidade de uma vida conduzida pelo Vento. Como cremos que, em se tratando de arte, não precisamos optar por uma delas exclusivamente, poderíamos dizer que, partindo da metáfora usada por Jesus na conversa com Nicodemos [Jo 3], “(In) Vento” é uma singela descrição da ação inventora do Vento (o Espírito Santo de Deus), e da experiência de construção e liberdade que experimentam os que são inventados por Ele. 
 
A música serve bem à letra. Na primeira estrofe, nas frases “Mas de onde vem?”/ “E agora pra onde vai?” há um jogo com a harmonia em que o primeiro acorde leva a um lugar inusitado, caracterizando bem as perguntas. 
 
Na segunda estrofe, a sucessão de acordes não tem uma tonalidade definida, o que liga a música à ideia de movimento e atitude encontradas na letra através das palavras “chegar”, “partir”, “parar”, “renovo”, “floração” e “viração”.
 
Na terceira estrofe, onde a letra cita os “mares e campos” e apresenta as ambiguidades “longe é perto” e “frágil segurança”, os compositores optaram por substituir o acorde que geralmente é mais utilizado como passagem para o acorde principal, trazendo mais uma vez a proximidade entre música e letra. A frase final utiliza um acorde fora da tonalidade principal, um “invento” de uma tonalidade ainda não utilizada nesta canção, o que ilustra bem a frase “E ver o sol nascer de novo no amanhecer”.

Faixa 5 - A moça (Letra: Silvia Mendonça/ Música: Tiago Vianna) 
 
A moça na janela vê o que? A moça abre a porta, para quem?
E quando acende a chama do fogão a moça está só...
 
A moça pega a caneta ela falha
Procura um papel em branco
E quando põe na mesa um prato
A moça está só
 
A moça abre o livro e imagina, a moça liga o rádio e desliga
E quando abre a porta o jornal está no chão e a moça está só
 
A moça olha as horas que não passam
A moça conta os anos, eles voam
A moça pinta os seus olhos de negro, a moça está só
 
A moça sai à rua e respira, a moça toma chuva, se alivia.
Passeia com os olhos borrados, é claro: não se importa
Parece que está só...

Uma vívida descrição da solidão! A composição da melodia e as escolhas para o arranjo de “A moça” foram muito acertadas. De tão pictórica nos remete às cenas de um filme. 
O aspecto intrigante da música fica por conta do “q” de dúvida quanto à continuidade da solidão da moça. A constatação da solidão sempre presente ao longo do poema – “a moça está só” – abre espaço para uma frase final construída em tom de incerteza: “parece que a moça está só”. Este tom de incerteza, também impresso pelo último acorde que se alonga, ao mesmo tempo em que não transmite uma sensação de “final”, faz adentrar à canção uma réstia de redenção, possibilitando nascer a esperança. Esta ideia de esperança, reforçada pela sequência de acordes da última estrofe, encontra eco na canção seguinte, “Na varanda”. Possivelmente Tiago Vianna e Maurício Caruso (que assina a produção musical) tenham pensado nessa adequação de mensagem entre as duas canções ao escolher a ordem do repertório no CD.

Faixa 6 - Na varanda (Mário Coutinho/ Tiago Vianna)
Esperança na varanda brinca
Tão risonha escarafuncha
A vida de quem cochila
Esperança na varanda espera
A chuva que vem longe
Cinza, triste e vagarosa. 
 
Esse campo perigoso
Onde tudo tem seu risco
Visgo de tristeza pega
Seus maus tratos trazem frio 
Vida, quintal de criança.
Há que se saber dos riscos
Há que se saber dos cacos
Riscado do giz de barro
 
Esperança na varanda grita
Acorda a alma esquiva
Alma de quem não dá bola
Esperança na varanda escuta
Os lamentos e as rimas
Dos poetas tão cansados
Dos poetas tão escassos
 
Vida, pátio de escola
Tudo nela vai, decola
Voo certo na subida
Em busca do grande azul
Vida é como folha de livro
Vida é verso bandido
Vida é verso em reverso.

O tom de tristeza e incerteza de “A moça” dá lugar a um tom de alegria e esperança em “Na varanda”. Aliás, nesta letra a esperança é personificada, e a ela se atribui ações como brincar, esperar, gritar e escutar. Isto reforça a ideia de esperança como tema da canção. 
 
O efeito inicial e a execução da guitarra desta faixa são muito parecidas aos da faixa “(In) vento”. Teria sido proposital a junção de “vento” e “varanda” a partir desta introdução? 
 
A letra é uma reflexão sobre a vida e reflexões esperançadas sobre a vida são cada vez mais incomuns. É interessante perceber que a esperança apresentada não é ingênua, mas refletida. Ela se fundamenta no fato de que a vida é oportunidade de aprendizado e crescimento. Esta concepção é apresentada metaforicamente nas comparações da vida com quintal de criança, pátio de escola e folha de livro, e confirmada repetidas vezes pela frase final: “Vida é verso em reverso”. O arranjo traz uma ideia de boa expectativa, de espera otimista. 
 
Nas frases “Há que se saber dos riscos”/ “Há que se saber dos cacos”/ e mais à frente “Vida, pátio de escola”, possivelmente há uma homenagem ou citação de “Coração de Estudante”, de Milton Nascimento e Wagner Tiso:
 
Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
 
A música é curta e sem repetições, com exceção da frase final, o que a transforma quase em um manifesto de uma visão de mundo que leva em conta a esperança.
Indicamos a você, leitor dessa coluna, quebrar o silêncio com o novo disco de Tiago Vianna. Caminhemos!
 
Sérgio Pereira - músico, educador e revisor pedagógico de História do Sistema Mackenzie de Ensino. Seu trabalho musical mais conhecido é o Baixo e Voz, que já conta com 21 anos, quatro CDs e um DVD e CD ao vivo a serem lançados em 2012. Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, sua dissertação versa sobre o compositor Lenine e o hibridismo musical brasileiro. Colunista das revistas e sites Bass Player Brasil, Ultimato e Cristianismo Criativo.

Filipe Costa Fontes - bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano José Manoel da Conceição, Licenciado em Filosofia pelo Centro Universitário Assunção, mestre em Teologia Filosófica pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Consultor Teológico Filosófico do Sistema Mackenzie de Ensino e professor do Departamento de Cultura Geral no Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.